O surrealismo que une Alice a mim

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vida limitada. Odeio!

Na condição de humano, o que mais odeio na vida, sinceramente, é saber que eu, você, nós, todos somos muito limitados. Ter ainda de aceitar essa condição imposta, sabe-se lá Deus por quem, é pior ainda. Quando se depende de uma cadeira de roda para se locomover é mais foda do que se pode imaginar. Não sei vocês, mas, me sinto muito mal quando me percebo limitado. Ora, confesse, nem que seja só para você mesmo, mas nunca lhe arrebatou sentimento igual? Parabéns a quem disse não.

Quando falo em limitação, não estou me referindo somente ao corpo físico, a quebra de recordes, recuperação hospitalar, mas também mental, psicológico e intelectual. Pensamos sempre em coisa reais, surreais, problemas, contas a pagar, salário baixo... E por aí vai. Já repararam, por exemplo, que a gente demora um bocado para achar uma boa resposta pra tudo ou uma boa maneira de sair da lama para resolver problemas que mais parecem incapazes de serem solucionados por nós mesmos? Pois é!

Sabe por que isso acontece? Usamos muito pouco a nossa capacidade cerebral: somente 10%. Imaginem! Por isso nós não conseguimos voar, ler mentes, estourar cabeças e provocar destruições sem precedentes (bem ao estilo do filme Carie, a estranha); de nos teletranspotar para outros lugares, enfim. Só 10%. Absurdo, né?! E o pior de tudo é quando nos deparamos com gente que nem se dá o direito de pensar, e quando o fazem, parece feder. É punk!

Dependente de uma cadeira de rodas desde o inicio deste ano, faz com que eu me sinta não um vegetal, mas, algo mais ínfimo. Sei lá, um germe. Para quase tudo o que tenho vontade de fazer sozinho e comigo mesmo, também sempre tenho de contar com alguém do meu lado para ajudar (aí já perdeu a graça ou o sentido de privacidade. É foda!). Nada contra a ajuda de terceiros, mas, pensem o que é fazer as necessidades (o número dois, por exemplo) em uma fralda descartável u ó, e ainda ser limpo por outras mãos que não as minhas. Um saco! É, no mínimo vergonhoso, decadente e deprimente. Mas...

Sair sozinho do meu quanto dá muito trabalho. Uma verdadeira jornada. Depois de tantas manobras, chego, enfim, ao corredor do apê, e aí vou, mas, pr’aonde afinal? Pra sacada, cozinha, pra sala...? Fazer o quê, senão, me contentar com a situação, né? Ainda assim, não reclamo da minha vida. Busco me resignar. Taí outra grande limitação: ser uma pessoa resignada. Conheço pelo menos meia dúzia de gente assim, o que me deixa com uma inveja branca e sadia. E se você pretende ser também ser resignado, saiba que não é fácil o exercício, ainda mais para uma pessoa estressada como eu!

Quando encontro alguém disposto a me levar para passear (na garagem do prédio, geralmente) me encho de graça. Quando vejo as pessoas, os ciclistas, motos e carros indo e vindo, começo a falar pelos cotovelos com o meu ‘anjo acompanhante’, porque parece que o tempo logo vai se acabar e, assim, voltar a minha clausura. U ó. Encarar a calçada para uma volta no quarteirão, ‘no way’. Nem cogito a possibilidade, graças, claro, à Prefeitura e de seu projeto de acessibilidade, mas, até que a iniciativa chegue aqui na porta de casa já estarei andando.

Mesmo que eu volte a usar minha perna direita, e voltar a andar, me sentirei ainda limitado, só que, agora por outras razões. O que não posso fazer é mesmo viver a minha vida sem mim, desistir de tudo e me entregar a este ou Aquele sistema, mesmo com tantas limitações.

Agora, me dêem licença para fazer um xixi básico... E vocês não sabem o trabalho que dá!!!

Beijo da ju. Até mais.

2 comentários:

  1. é ju,
    vc pode até estar preso na cadeira de rodas...
    .....mas seu cerebro está livre e funcionando 100%, já pensou em escrever um livro???
    acho que dá samba,
    bj

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  2. Baby...isso é um mito, nosso cerébro trabalha a todo vapor!!!! nada de 10% só, pense no gasto evolutivo que seria fazer e manter uma super máquina pra deixar ela parada...Nada, usamos 100% dele o que varia são os 100% de cada uns que apesar da matemática dizer que são iguais na prática não é isso que se vê kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    E o seu é mais 100% do que a maioria dos 100% que eu conheço kkkkkkkkkkkkkk

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